11/10/10

Saída da formação ambiental ´´à boleia`` das directivas europeias

Num ensino superior português onde proliferam distintas áreas de especialização, vários estabelecimentos de ensino superior viram-se agora para novas áreas de especialização, aproveitando booms de procura do mercado. Um dos exemplos mais notórios é a área das energias renováveis, na qual todas as universidades públicas apresentam especializações.

Estreado este ano lectivo, o Energy MBA resulta da percepção desta tendência – europeia e mundial - em torno das renováveis e do consumo sustentável. O mestrado, apresentado pelo ISCTE – Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa e coordenado por Pedro Fontes Falcão e o ex-ministro da economia Manuel Pinho, tem também uma forte componente internacional, em colaboração com a Universidade de Columbia. «A crescente consciencialização e necessidade da redução das emissões de CO2 e a consequente adopção de energias mais limpas, a par do facto de Portugal ser reconhecido, internacionalmente, como um cluster das energias limpas e renováveis, são alguns dos factores que levaram à criação deste programa único», realça Fontes Falcão.

«As áreas de ensino relacionadas com a qualidade da água têm sempre muita saída», reconhece, por seu lado, Helena Galvão, professora na Universidade do Algarve e presidente do Departamento de Ciências da Terra, do Mar e do Ambiente. Para a docente, as exigências europeias para a qualidade da água de consumo humano têm um papel importante na procura de mercado. «É uma área de ensino em expansão.

A área de riscos costeiros e o sector dos resíduos são outras vertentes formativas que Helena Galvão destaca, pelodinamismo que têm tido. «Porém, áreas mais tradicionais como a biologia marinha têm sempre muito sucesso em termos de alunos», explica a docente, enquanto sublinha que esta é uma área que fascina muitas pessoas. Em termos de empregabilidade, Helena Galvão não tem dúvidas. «O interesse e o empenho dos alunos tem sempre resultados em termos de saídas profissionais».


Bolonha traz perda de qualidade

Muitos docentes reconhecem, no entanto, que o processo de Bolonha veio diminuir a qualidade do ensino. «Os aluno do primeiro ciclo (licenciatura) não estão suficientemente preparados, apenas têm noções bastante lógicas e elementares», afirma Filipe Duarte Santos, coordenador do programa doutoral em Alterações Climáticas e Poíticas de Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Lisboa. O especialista acredita que a formação de três anos do primeiro ciclo só seria completa caso houvesse uma maior coordenação entre os diversos docentes. Apesar disso, Duarte Santos acredita que no segundo e terceiro ciclo, a qualidade tem imperado e é cada vez maior.

Já Helena Galvão acusa o Administração central e local de terem prejudicado a oferta do ensino, através dos sucessivos cortes nos orçamentos. «A qualidade está a cair enormemente», enfatiza. Para a docente, a multiplicidade de serviços que uma universidade representa deveria ser considerada, antes dos cortes governamentais

De acordo com o relatório “Emprego na Europa 2009”, lançado pela União Europeia, há 2,35 milhões de empregos europeus relacionados com a gestão da poluição. Já na produção de energia através de fontes renováveis, a empregabilidade aumentou, entre 1991 e 2005, cerca de 40 por cento. A área de gestão de resíduos, por seu lado, gera um milhão de postos de trabalho.

A realidade portuguesa não fica aquém. As estatísticas do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI), a partir dos dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) , mostram que os licenciados em áreas de estudo relacionadas com Ambiente se têm mantido longe dos centros de emprego. Apenas 1,7 por cento do total de desempregados com formação superior inscritos no IEFP em 2009 estavam ligados a áreas ambientais. O que pode demonstrar que, mesmo em altura de crise, o boom dos empregos verdes mantém-se.

Autor / Fonte

Marisa Figueiredo / http://www.ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=9743